A partir de hoje postarei alguns assuntos sobre o passado do varejo,e a primeira é esta que consegui no site museu da pessoa.
O ramo [mercado] de trabalho antigamente era mais fácil. Quando eu saía de um clube tentava vaga no outro clube. Através de um amigo e do conhecimento dos próprios sócios do clube. Para trabalhar lá dentro tinha que ter boa educação, saber lidar com as pessoas para poder ter um pouco de crédito. Falava: “Fulano, arranja uma vaga para mim?” O outro, aquele mais ruinzinho, mais peralta, eles já mandavam embora. O que é ser um bom boleiro: educação, rapidez. E não responder ao associado quando eles fala. Tem muito associado agressivo. É como o pessoal diz: “Não exija a minha educação. Mostre a sua.” Tem que saber esses dois lados: a pessoa ser agredida ficar quieta. Que ele tem muito mais a ganhar do que revidar aquela agressão. Com 15, 16 anos eu ainda era boleiro. Depois já estava grande demais. A minha família sempre foi grande. Eu falei: “Vou entrar no ramo de mercado.” Houve uma oportunidade no antigo Mar e Terra. Entrei como repositor. Peguei uma vaga, estava fazendo inscrição. Na José Linhares, 245, Leblon. Hoje em dia é uma imensa Casa Sendas. Mar e Terra eu só conheci esse da José Linhares onde eu fiz a minha inscrição. Que logo a seguir foi comprado pela Sendas e permaneceu.
LOCALIDADE
Comércio na Zona Sul
Tinha o antigo Mundial e o CB, é a Casa da Banha. Perto da Visconde de Pirajá. Tinha umas duas ali. Agora só é Mercado Zona Sul e Casas Sendas. Até hoje ainda tem o Mercado Rei das Tintas. Do lado de lá, perto da Ataulfo de Paiva, tem um Ponto Frio. Mais à frente tem o Mercado Zona Sul, que era antigamente era a Casa da Banha. Eram os supermercados mais perto que tinha ali. O resto é botequim, para os bebuns. Se bebia muito café. Cerveja só mais à noite.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Trabalho na Casa Sendas
A minha experiência de mercado era de carteira assinada. Lá no mercado a gente que ia sempre repor os produto que os fregueses apanhavam. Eu trabalhava na sessão de perecíveis e cereais. Arroz, feijão. Tirava, repor. Eu pegava de 11 às 10. Tinha dois turnos. No primeiro o funcionário fazia a abertura , largava às 4. Depois tinha o segundo turno. Agora já mudou de novo. Já fizeram outro turno. Funcionário antigamente trabalhava 10 horas com duas horas extras. Agora funcionário só trabalha à base de 8 horas por dia com uma hora de almoço. Não mudou nada no mercado. Só a burocracia mudou. A gerência. Antigamente no mercado era mais prático de se comprar porque tinha coisas a varejo. Agora é tudo embalado. A própria seção de açougue era carne a varejo. Agora só é carne embalada. E isso dificulta para muita gente. Para a classe pobre principalmente. As bandejas são grandes. Os pedaços são caros. Nem todo mundo pode. Tem carne de segunda mais barata, que todo mundo pode pegar, mas não é vantagem.
O pessoal está correndo muito hoje em dia para outro lado aonde tem uma condição aonde você possa pegar uma carne, escolher. O Mundial, em Copacabana, vende carne a varejo. Lá você pede: “Me dá um quilo dessa.” Ele vai e corta do jeito que você quer. Na bandeja você não está vendo o que é que tem dentro da bandeja. Isso foi um tipo de mudança. Está certo que ficou com mais luxo, ficou mais bonito. Mas só para quem tem, para a classe média. Venho comprar no Mundial direto. É mais em conta. Nas Sendas a gente compra assim só mesmo numa emergência. Eu não vou lá comprar só uns 5 quilos de arroz, eu não vou só comprar um sabão. Compro aqui mesmo. Compra de mês quando tem que fazer, a gente pega vai lá. Faz uma compra maior. Porque uma compra de 120 reais que você faz no Mundial, nas Sendas quase dobra. Eu não digo dobra, mas dá mais da metade. Aumenta muito mais.
Não tinha vantagem para o empregado comprar. Quando eu trabalhava no mercado a gente fazia a nossa compra de mês. Mas eu fazia compra só do básico que precisava. E o resto eu dava o dinheiro à mulher ela comprava no varejo. Sempre foi melhor comprar a varejo. Não tem 6 anos ou 7 anos que acabou o a varejo.
Tem mercado tem condições de fazer um trabalho 24 hora. A condição do trabalho em 24 horas, em vários turnos de trabalho. E fica melhor dentro da Zona Sul, fica melhor para eles comerciar. Para a classe rica: “Não quero ir hoje de manhã porque o mercado está cheio.” “Então vai à tarde.” “Não quero ir à tarde. Quando todo mundo estiver dormindo eu vou, à noite.” Mas só facilitou mesmo para eles. Para a classe pobre não facilitou em nada.
Cheguei a pegar um pouco de saco de papel. Depois começaram a botar no saco plástico, na bolsa. E foram aprimorando. Passou a vir o saco, quando a gente comprava, perecível principalmente, botava no saco. Do saco para a caixa, bota na bolsa direto.
Só de Casa Sendas eu fiz 8 anos. Logo que eu entrei, em 1979, ainda tinha a marca Mar e Terra. Mas a Sendas tinha comprado. Em 88 foi a época que eu saí.
Quando eu entrei nas Sendas eu já parei um pouquinho de pescar. Já não tinha quase tempo. Era estudo, mercado, do mercado para escola. De repositor eu fui para encarregado de seção de não-perecíveis. Depois tomava conta também do hortifrutigranjeiro que era a seção de perecíveis. Teve várias mudanças de pagamento. O encarregado de uma sessão de cereais não-perecíveis ganhava menos que o encarregado de perecíveis. Era mais responsabilidade.
Foi quando o rapaz me botou como chefe de hortigranjeiro. De repositor, encarregado de não-perecíveis, depois passei para perecíveis. Dali eu comecei a trabalhar aos poucos no balcão. Eu trabalhei no balcão de salgados, no balcão de peixaria e um pouquinho na padaria. Eu era um funcionário, como é que se diz? Polivalente. Inclusive eu tenho até um papel meu com a minha avaliação. Muito boa e excelente. Entrei na seção de peixaria e na peixaria eu fiquei. Fui a chefe de setor de peixaria. Peixaria é arrumação, limpeza e bom atendimento. Quer dizer, não basta só a pessoa saber limpar um peixe se a pessoa em si já é toda suja, toda encardida, não tem também educação. Eu não era nem nascido quando já existia isso. Descamar e cortar na hora. Todo mercado que botava peixe tinha que ter um limpador de peixe. Tem um balconista, e tem um que toma conta em geral, faz a arrumação e repõe o peixe que falta.
Saída da Casa Sendas
As pessoas que compram o peixe não entendem de peixe. Geralmente um freguês que compra peixe vai pelo outro. “Será que esse está bom? Como é que conhece peixe? Abre a guelra dele e vê se está vermelhinha? Aperta no rabo?” Mas não conhece peixe. Eles ficam um no palpite do outro. Se ele comprar dois quilos de filé aqui e o outro falar: “Não leva, não, que está ruim”, ele deixa o filé. A classe brasileira, nossa classe aqui, é um teleguiado pelo outro, dentro do ramo do peixe. Poucos chegam: “Me dá esse peixe aqui.” O cara corta bota no bolso e vai embora. O resto pega, revira. Joga para lá, joga para cá. Mas não sabe nem o peixe que está levando. Eles compram gato como lebre. Lembro muito caso de freguesa. A freguesa chegou e falou: “Meu amigo, eu comprei um quilo de viola na feira. Mas isso aqui não é viola.” Levou para eu conhecer. Era arraia. Comprou arraia como viola. Era freguesa número um de comprar no mercado. Ela comprava muito. Então ela queria que eu visse. Compra filé de tiravira como filé de pescada.
Uma mercadoria, estando boa, dá para comer. Mas o pessoal não conhece peixe. Eles têm que chegar para o balconista ou para o encarregado do peixe: “Meu amigo, eu quero um peixe para assar.” Aí vão te dar um peixe para assar. “Você quer o quê? Um badejo, um cherne, um robalo?” “Um peixe mais em conta.” “Qual o filé melhor que eu posso dar para o meu filho?” “Filé de linguado.” Um filé que a criança come e não passa mal. “Qual o peixe que eu posso dar para uma pessoa doente?” “Um filé de pescada”. “Um filé de linguado.” E outras qualidades. Eu faço assim. Apesar de eu já ser peixeiro, quando vou comprar um peixe eu pergunto ao balconista: “Meu amigo, dá para o senhor me dar um peixe bom aí?” “Essa corvina aqui?” “Essa aqui. Eu quero essa aqui”. Já pego o meu peixe. para ler mais siga em museu da pessoa
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19/09/2009
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